A anemia ferropriva é a causa mais comum de anemia
nutricional, se caracteriza pela diminuição ou ausência das reservas de ferro,
baixa concentração férrica no soro, fraca saturação da transferrina,
concentração escassa de hemoglobina e redução do hematócrito, o que reflete em
microcitose e hipocromia, causando distúrbio no mecanismo de transporte de
oxigênio.
Após seis meses de idade, as crianças são mais vulneráveis
porque ocorre o esgotamento das reservas de ferro provenientes da gestação e a
dieta se caracteriza por baixa ingestão desse elemento. Nesse período de vida,
há aumento da demanda orgânica por ferro em virtude do acelerado ritmo de
crescimento, especialmente nos primeiros dois anos de vida. O déficit de ferro
pode levar a alterações de pele e mucosas, baixo peso para a idade, alterações
gastrointestinais, redução da capacidade física e mental devido à limitação do
transporte de oxigênio, perda do apetite e diminuição da função imunitária. A
deficiência de ferro pode causar alterações na função cerebral, dependendo da
idade do paciente, duração e gravidade do quadro anêmico, causando um prejuízo
no desenvolvimento psicológico e cognitivo.
Essa deficiência de ferro ocorre em três estágios:
primeiramente há diminuição da ferritina sérica, que está diretamente
relacionada com as reservas de ferro. No segundo estágio, há uma diminuição da
concentração do ferro sérico e aumento da capacidade de ligação do ferro. O
terceiro estágio é quando a anemia se instala devido a restrição na síntese de
hemoglobina. O melhor exame para estimar o ferro total do organismo,
particularmente o dos depósitos, é a ferritina sérica.
O diagnóstico da anemia ferropriva é amplamente realizado
pelos sistemas de saúde no Brasil por meio da dosagem de hemoglobina, a qual é
relativamente barata. Contudo, tem sido demonstrado que a ferritina pode
possibilitar a detecção precoce da deficiência de ferro no organismo, ou seja,
sua dosagem pode ser vantajosa, podendo contribuir para o diagnóstico precoce e
prevenção da anemia ferropriva na infância. Níveis baixos de ferritina, mas
níveis normais de hemoglobina, indicam a presença de um estágio inicial de
carência de ferro no organismo, já que a ferritina consiste em um marcador mais
sensível para o diagnóstico precoce da deficiência de ferro. Por outro lado, níveis
baixos de hemoglobina, mas níveis normais de ferritina, indica a presença de
outras causas de anemia que não a ferropriva. Portanto, como a ferritina
consiste em um marcador mais sensível e mais específico para avaliação da
deficiência de ferro do que a dosagem da hemoglobina, seria importante incluir
a sua dosagem mais frequentemente na avaliação da anemia ferropriva em
crianças.
Fonte: Revista Brasileira de Análises Clínicas.